Logo à entrada da edição deste ano do Motor Clássico a atenção (e a audição!) prenderam-se a um “Pare ao Sinal Vermelho”; uma chamada de atenção para o espaço da Infraestruturas de Portugal e para um antigo camião de trabalho da extinta JAE (Junta Autónoma de Estradas), devidamente assinalado como sendo uma máquina a diesel, da General Motors, pertença do Estado português.
Outra das atrações do evento estava um pouco mais adiante, menos sonora mas igualmente chamativa de atenções, até pelo tamanho imponente que tem. Trata-se “do” Rolls-Royce Phantom III, muitíssimo carismático, cheio de história, fabricado em 1937, e que durante a sua vida útil transportou rainhas, estadistas e Papas nas suas visitas a Portugal. O carro integra a coleção automóvel do Museu do Caramulo (entidade organizadora do Motorclássico em parceria com a AIP – Feiras Congressos e Eventos), e os vistosos bancos do Phantom, encimados pela figura do Papa João Paulo II em cartão, ganharam um ainda maior realismo nesse voltar atrás com as páginas do calendário. Trata-se do mais exclusivo Rolls-Royce do pré-Guerra, desenvolvido antes da morte de Sir Henry Royce, em 1933, porque só foram fabricadas 710 unidades do carro. A sua produção terminou em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial. Terá sido o conforto desta verdadeira peça de museu (dá-nos a sensação de que à saída da linha de produção já o era) que levou o Governo português a adquirir um, mas não se pode ignorar que, no final dos anos 30, este R-R já vinha com um motor V12, que permitia alcançar velocidades superiores aos 140 km/h. O seu primeiro proprietário fora um príncipe indiano e só em Março de 1957 é que o modelo recebeu a matrícula DD-30-92, passando a estar ao serviço da Presidência da República. Sumptuoso. Rico. Maravilhoso.
Outra das grandes prometidas atrações da 12.ª edição do evento era o centenário da fundação da BMW que ali foi celebrado através da exposição de alguns dos mais emblemáticos automóveis e motorizadas que marcaram a história do gigante alemão da indústria automóvel. Os mais antigos e mais perdidos da nossa memória visual foram os mais “espreitados”. Tal como é costume, a área dedicada à celebração de efemérides das marcas está vedada ao contacto direto do público o que é, obviamente, compreensível mas que este ano pareceu conduzir a algum distanciamento em relação aos clássicos que ali estiveram (será que estavam afastados demais das fitas de separação?). Lembro-me, por exemplo, de na edição de 2012 do Motorclássico, este espaço ter sido dedicado à Ferrari e de até se formarem filas para se conseguir uma fotografia do quase comovente Ferrari 195 Inter – o mais raro e antigo modelo da marca italiana que, à data, ainda tinha feito a ligação Suíça-Portugal “pelo seu próprio pé”.
Também esperava um bocadinho mais da exposição temática “70 Anos Vespa”.
Já no capítulo dos super desportivos, um Lamborghini Miura de 1971, do qual foram fabricadas apenas 150 unidades, arrancou bons sorrisos a quem o “namorou”.
De salientar que os preços dos velhinhos e antigos Mercedes, Citröen DS 21, Mini e Volkswagen carocha, estão cada vez mais elevados para quem continua a alimentar o sonho de ter uma destas preciosidades na garagem.
Ainda uma palavra para a simpatia e simplicidade do casal Claire & Bernard Ramond, da “Cookie Garage – Les Authentiques Saveurs du Rétro”.
No balanço, Salvador Patrício Gouveia, da organização do Motorclássico, fala em mais de 180 expositores reunidos na FIL e mais de 40 mil visitantes. Mesmo não tendo sido um assombro de Motorclássico, é sempre com grande expectativa que aguardo a cada ano pelo agendar da data da exposição. Como sou “cliente” assídua desde a primeira edição, já houve exposições realmente impressionantes, capazes de me fazer pele-de-galinha, como a do longínquo ano em que pudemos entrar no primeiro carro de exteriores da RTP. Sim, era uma “pão-de-forma”, só podia. 🙂