Lionel Richie: o verdadeiro senhor cooljazz

Lionel Richie no edpcooljazz 2015, fotografado por Nuno Fontinha

A despedida do mês de Julho de 2015 foi em grande. Depois de Lionel Richie, arredar pé do estádio não me apetece; quase temos vontade de cumprimentar toda a gente que ali esteve e fazer amigos novos entre um público que bem podia ter ido connosco à viagem de finalistas do secundário. E se calhar até foi. Sabe-se lá o que pode resultar de noites mágicas como esta.

Na madrugada de 30 para 31 de Julho de 2015, despedi-me da temporada de festivais de Verão com a muito aguardada passagem de Lionel Richie pelo edpcooljazz. O concerto contou com os Cais Sodré Funk Connection na primeira parte para mostrarem o seu funk à portuguesa enquanto se anuncia a chegada do segundo álbum da animada banda.

Não é por acaso que a digressão europeia que Lionel Richie encerrou hoje em Portugal se chama “All the Hits, All Night Long”. O cantor norte-americano não desiludiu em nada com a premissa anunciada e tão desejada pelo público que encheu esta noite o Estádio Municipal de Oeiras.

O músico, de 66 anos, demonstrou estar em plena forma e cheio de energia para um concerto que durou quase duas horas e onde mal tivemos tempo para respirar já que foi um dos típicos casos de êxito atrás de êxito, entre os temas que conhecemos interpretados apenas por Lionel Richie, e por todos os outros que tantas vezes trauteámos, com a certeza de que iria ser uma música que nos ia acompanhar pela vida fora, mas sem sabermos que era dos Commodores.

‘Running With the Night’ e ‘Penny Lover’ foram as primeiras opções, às quais se seguiu um medley de ‘Easy’ e ‘My Love’ numa primeira abordagem ao “catálogo” do grupo que Richie liderou até 1983 mas numa sonoridade a entrar por um jamaican style muito condizente com o clima que esta noite tivemos na zona da grande Lisboa: quente, muito quente e húmido naquela que terá sido uma das poucas noites a dispensar agasalhos em Oeiras.

‘Ballerina Girl’ e ‘You Are’ quase entram no perigoso campo de nos fazer sentir um bocadinho envelhecidos, não fosse a tamanha entrega e honestidade com que Lionel Richie está em palco, apenas a cantar ou também ao piano, e sempre com um sorriso tão grande que nos conforta saber que estamos ali todos pelo mesmo: recordar com a emoção que só o ao vivo consegue transmitir da infinidade de sonhos sonhados e pactos firmados ao som dos anos 80. A audiência esteve, mais uma vez, composta na maioria por indivíduos da “geração de 80”, muitos casais, mas, curiosamente, também alguma geração mais jovem roubada aos vinis dos pais e tios e às notícias dos cinco Grammys que Lionel Richie venceu ao longo da sua carreira.

‘Three Times a Lady’ é uma daquelas que acompanha muitos beijos e abraços demorados, ou não fosse uma das canções que nos ensinou o que era ser-se romântico. Mais uma incursão pelos Commodores com ‘Brick House’ e ‘Fire’ e fica provado que Lionel Richie, além de bom cantor, entertainer e apreciador do vinho que foi bebericando, também sabe bem gerir tempos numa actuação que, nem mesmo nos típicos momentos de “slow de garagem”, amornou. E já que vamos por aqui, pronto, é verdade… é uma recordação muito recorrente, muito falada, explorada e até um niquinho cliché mas, caramba, os slows das matinés de final de ano lectivo estão cá cravados na história daquilo que hoje somos e, portanto, se há tema que sustenta esta banda sonora do nosso imaginário é o ‘Stuck On You’, aqui acompanhado de um brilhante solo de harmónica, um instrumento que saiu da sua pequena caixinha para em Oeiras ganhar todo um rejuvenescido esplendor. «Para o ano gostava de calhar na tua turma», brinca um dos muitos casais que entretanto deixou a timidez no recato de um segundo plano onde não se vai voltar até ao final do espectáculo.

Lionel Richie esteve sempre muito entusiasmado a receber os aplausos e a “movida” com que o público português o recebeu, a ouvir os duetos que connosco protagonizou (mesmo os não pedidos) e a exclamar que já não queria sair daqui. Todavia, o ponto alto deste humor do artista terá sido quando anuncia a chegada de uma convidada: «Convidei Diana Ross para se juntar a nós esta noite», disse, para deixar o público ao rubro e aos saltos. «Só que ela não aceitou», brinca, «está muito calor aqui para uma Supreme». O público do edpcooljazz fez bem as vozes da cantora no clássico ‘Endless Love’, de 1981.

Há telemóveis acesos, há palmas e há dança, há sim senhor, e para ela chegar só foi necessário ouvir ‘Don’t Stop The Music’ e ‘Angel’. A partir daqui já ninguém precisa de palavras de coragem, estamos claramente por nossa conta a fazer uma festa que só ainda consegue subir mais na escala das nossas expectativas com o som do saxofone à mistura (sempre ele a fazer-nos tombar a cabeça para o lado e fazer aquele sorrisinho que só os grandes amantes de tudo o que o jazz significa conseguem “apanhar”).

‘Say You Say Me’ é recebida em ovação, numa loucura sadia que segue com ‘Dancing on the Ceiling’, volta a elevar a temperatura emocional dos casais com ‘Hello’ e mantém os ânimos altíssimos com a música que ouvimos nos últimos meses a promover a vinda de Lionel Richie ao festival: ‘All Night Long (All Night)’.

Com a banda apresentada e os agradecimentos feitos, percebemos claramente que não iria haver encore até porque, não havia volta a dar para ir buscar mais canções de sucesso a um espectáculo que já nos tinha deixado com os pelos dos braços eriçados por tanta vez, numa noite de lua cheia e alguns pingos de uma chuvinha de Verão que só ajudam quando mais tarde queremos associar determinado evento a uma certa sensação.

Mas, surpreendentemente, Lionel Richie volta para um encore com «uma música que escrevi com o meu querido amigo Michael Jackson»: ‘We Are The World’ é a chave de ouro que fecha o portão de toda a zona encantada dos nossos corações que esta noite teve direito a visita guiada. Arredar pé do estádio não apetece; quase temos vontade de cumprimentar toda a gente que ali esteve e fazer amigos novos entre um público que bem podia ter ido connosco à viagem de finalistas do secundário. E se calhar até foi. Sabe-se lá o que pode resultar de noites mágicas como esta…

Lionel Richie no edpcooljazz 2015, fotografado por Nuno Fontinha
Lionel Richie no edpcooljazz 2015, fotografado por Nuno Fontinha

Trabalho feito por Daniela Azevedo para o extinto site do grupo Media Capital Rádios: Cotonete – Música e Rádios Online

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