Miguel Ângelo prepara-se para um Natal de canções especiais que vai reunir e apresentar no próximo sábado, dia 5, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. O espetáculo também vai servir para apresentar o álbum “Segundo”, precisamente, o segundo da carreira a solo do cantor que reconhece que nunca se vai descolar da imagem de vocalista dos Delfins.
Do disco, lançado em abril deste ano, já saíram os temas ‘Fado do Fim do Mundo’, ‘Musa’, ‘Anda Lá’ e ‘O Vento Mudou’, em dueto com Eduardo Nascimento. Nesta conversa, a segunda que tivemos no espaço de um mês, Miguel Ângelo falou sobre “O Natal Segundo Miguel Ângelo” e não só.

‘Fado do Fim do Mundo’ é o mais recente single a sair do álbum “Segundo”. Como é que os fãs estão a reagir ao disco?
Na realidade só depois do Verão é que comecei, e vou continuar em 2016, a fazer concertos em auditórios. O Verão não pede teatros ou auditórios. Já estive no norte e no Alentejo e tem corrido bem.
O concerto de Natal do Centro Cultural Olga Cadaval faz parte dessa digressão?
Sim, mas tem um cunho um bocadinho diferente dos outros concertos, não só em termos de reportório e cenografia, mas também vai ter alguns convidados. Este espectáculo já é muito centrado na minha carreira a solo. Vai ter uma ou outra canção mais antiga mas só porque acho que vai caber ali.
A Nicole Eitner, que participa no disco, vai ser uma das convidadas?
A Nicole vai participar ainda mais activamente no espectáculo. Vai cantar uma canção minha, uma canção dela e vai fazer aquilo que faz habitualmente na sua vida profissional: dirigir um coro de 30 vozes que também vão estar nalguns temas que fui buscar que, não sendo propriamente aqueles tradicionais de Natal, que toda a gente conhece, são temas que eu acho que assentam muito bem nesta época. Se te falar, por exemplo, do ‘What a Wonderful World’, não é propriamente uma canção de Natal mas sabe bem ouvir naquela altura. São canções que apelam ao espírito que se vive na quadra. Eu ouço canções de Natal desde pequenino, por isso, tenho um reportório muito grande! [risos] Vai haver também um piano de cauda.
Em que medida é que “Segundo” é diferente do “Primeiro”?
É um disco com mais guitarras eléctricas, se calhar com mais energia. O “Primeiro” era um disco gravado no quarto, “Segundo” já foi gravado na sala, como se pode ver pela capa [risos], o “Terceiro” não sei… se calhar é gravado na rua! [risos].
E são diferentes do “Timidez”, de 1998, que foi, afinal, o teu primeiro disco a solo…
Completamente! Esse disco tinha canções que eu tinha começado a compôr para vários filmes, versões de canções de que eu gostava, alguns originais que não tinham cabido nos Delfins, e também porque tinha o estúdio dos Delfins onde gravávamos diariamente e tinha essa liberdade para o usar. Na altura os Delfins também tinham entrado num hiato e a editora quis aproveitar para o lançar. Os Delfins eram a minha carreira principal e quis fazer algo diferente. Era um disco sem guitarras, só com teclados e samplers de instrumentos clássicos, de orquestra. O espectáculo era muito encenado, era algo completamente diferente.
Mas hoje ainda és “o Miguel Ângelo dos Delfins”?
Ainda sou! [risos]. Acho que vai ser assim até ao fim da vida e é bom. Já tenho um conjunto de canções para tocar na estrada, um reportório a solo que me garante ter uma lista de canções minhas para tocar ao vivo mas claro que vem sempre ‘Aquele Inverno’, o ‘Nasce Selvagem’ e a ‘Baía de Cascais’, um clássico, que só toco no segundo encore! [risos]
No segundo?
Sim, só no segundo, no primeiro não, têm que pedir muito!
Os Delfins tiveram alguma dificuldade em impor-se? Hoje em dia há uma maior abertura dos portugueses para a música portuguesa…
Algumas canções, que hoje em dia ainda tocam na rádio, quando saíram não foram lá grandes êxitos. Já depois dos anos 90 é que temas como ‘Aquele Inverno’, por exemplo, ficaram marcados na história. Às vezes as coisas não acontecem logo, é preciso deixarem as músicas fazer o seu percurso. Também algumas coisas não eram mesmo boas, é preciso dizê-lo. Na realidade quase não havia indústria musical portuguesa, era tudo feito de uma forma muito auto-didacta. Lembro-me de, nos anos 80, termos copiado um contrato que tínhamos visto de uma banda inglesa para fazermos um nosso, para um concerto em Castelo Branco! Dantes não havia contratos, era tudo feito pelo telefone, “vens, pago-te isto, pago em dinheiro”. O vinil nem sequer soava como nós queríamos, era um som abafado, sem brilho, e hoje em dia já não.
E também preferes os concertos, verdade?
Sim, é o que eu mais gosto. Também gosto muito da fase da composição. O estúdio é que é muito desgastante pela incerteza e ansiedade que causa e porque tenho que ouvir a música umas 500 vezes! Eu tenho que gravar no máximo uns cinco takes de seguida. Se não sair bem, faço noutro dia. A música vive muito da energia e empatia que tem com as pessoas.
Quando decidiste seguir carreira a solo tinhas algum objectivo concreto?
Tinha. Ser maior que os Beatles! [risos] É que isso leva-nos a um comprometimento muito grande. Se queremos ser maiores que os Beatles temos que trabalhar todos os dias, aperfeiçoar e aprender e isso é uma paixão. Continuo a ter essa paixão e a estar muito atento ao que se faz.
Ainda te deslumbras com a Baía de Cascais?
Sim, é um sítio onde ainda continuo a ir muito. Às vezes vou beber um café ou um chá, ou até fazer reuniões, continua a ser um sítio calmo apesar dos muitos estrangeiros, mas eu sou a favor deles. Se eu quiser mais privacidade sou eu que tenho que mudar. Não podemos parar o progresso da nossa terra, desde que seja bem conduzido, por causa dos nossos prazeres pessoais.
Trabalho feito por Daniela Azevedo para o extinto site do grupo Media Capital Rádios: Cotonete – Música e Rádios Online