Frescura, elegância e talento. Assim é Cláudia Franco que, apesar da experiência assinalável no mundo da música, está agora a estrear-se nos álbuns com “Soul Dance”: «Vão encontrar uma grande paixão pelos clássicos do jazz (…) jazz um bocadinho contemporâneo assente na tradição e dois temas meus», disse-me, num final de manhã particularmente agradável.
Encontrámo-nos em ambiente de brunch e eu já levava o CD com sinaizinhos a marcarem os meus temas favoritos. No carro dela toca Ella Fitzgerald e Frank Sinatra. No meu tocam ‘Dharma’, ‘Night and Day’ e ‘The Boy Next Door’.
O produtor e pianista Rui Caetano foi quem esteve a seu lado nesta jornada da gravação do álbum, da qual nasceu uma abordagem musical moderna aplicada aos grandes clássicos de jazz.
O que vamos encontrar ao ouvir o álbum “Soul Dance”?
Vão encontrar uma grande paixão pelos clássicos do jazz, uma paixão que não é só minha mas também da banda que está comigo e do meu produtor e director musical, o Rui Caetano, que também é o pianista do grupo. Os dois em conjunto decidimos qual seria a direcção do CD: jazz um bocadinho contemporâneo assente na tradição e dois temas meus.
E esses dois temas teus, como os podemos descrever?
Ai é difícil descrever… (risos) porque não são um jazz mainstream, é mais moderno, diferente. É mais fácil quem os ouvir dizer o que pensa.
Como começou a tua ligação à música?
Fui uma rapariga normal, que gostava de cantar e nunca levou isso muito a sério no sentido de pensar que seria possível fazer fosse o que fosse. Até que, uma coisa levou a outra: entrar numa banda, depois perceber que queria vir para Lisboa e frequentar o Hot Clube, estudar jazz pelo qual me apaixonei no percurso, e depois, tirar a licenciatura que fez todo o sentido para aprofundar o meu conhecimento. Na altura já cantava imenso, já tinha o meu grupo, já tinha outras coisas com outros nomes e outros músicos. Há uns dez anos que ando por aí a cantar e a estudar.
Ainda te podemos ouvir no Hot Clube?
Neste momento estou focada no disco. O Hot Clube é certamente um local por onde passaremos para o apresentar. De vez em quando apareço às quartas-feiras para cantar um bocadinho com os meus colegas nas jam sessions.
Na abertura do concerto do Anthony Strong foi, realmente, a primeira apresentação do disco. Como foi?
Foi muito bom. Conheci-o e tornámo-nos amigos, costumamos falar muitas vezes. Ele apoia-me e ajuda-me com ideias e com a experiência dele porque tem uma carreira bastante conhecida. Tem-me ajudado ao contar alguns percalços que encontrou na sua carreira. É uma excelente pessoa, um excelente músico. Também tive a oportunidade de fazer um dueto com ele e deu para conhecer o seu lado musical em acção. Convidou-me para ir ao Porto no dia a seguir e também já me convidou para ir a Londres. É mesmo um rapaz impecável, supertalentoso, carinhoso e atencioso.
Quem são as tuas grandes referências no jazz?
Acho que a referência incontornável terá de ser a Ella Fitzgerald, faz parte do meu dia a dia. Obviamente tenho outras como a Carmen McRae e a Nancy Wilson. Das mais modernas gosto da Norma Winstone, Dee Dee Bridgewater e Diane Reeves. Não posso esquecer o Chet Baker e o Sinatra, obviamente.
O que achas da ideia de fazeres parte da “nova geração do jazz”?
Nós às vezes no meio jazz brincamos com os colegas de 40 e 50 anos a quem ainda chamam de “promessa do jazz”. Acho que o jazz é um bocadinho menosprezado pelos media, por isso, custa muito até que alguém diga que já andamos nisto há muito tempo e fazemos coisas interessantes. Tenho professores universitários, com dez discos editados, a quem ainda chamam “promessa” e nós brincamos com isso. Se calhar eu, que ando nisto há dez anos, também não sou da “nova geração” mas acabo por o ser para as pessoas que acabam de me ouvir. Tenho colegas que estão agora a sair da faculdade, cheios de energia, se calhar são eles a nova geração… (risos). Se calhar sou da “nova geração” por ser este o primeiro disco, porque fui das primeiras pessoas a licenciar-me em Lisboa na Escola Superior de Música, ou se calhar porque «já não aparece nenhum cantor ou cantora a fazer este trabalho há muito tempo. Talvez seja, portanto, de uma “nova geração” depois de uma Paula Oliveira ou uma Jacinta, se bem que não gosto muito de rótulos.
Trabalho feito por Daniela Azevedo para o extinto site do grupo Media Capital Rádios: Cotonete – Música e Rádios Online