Ao quarto MeetOn a APDSI dedicou o debate à “Transição Digital na Educação” e, para tal, contou com a partilha de testemunhos de José Vítor Pedroso, Diretor-Geral da Educação, Nuno Feixa Rodrigues, Coordenador da Iniciativa nacional INCoDe.2030 e Vogal do Conselho Diretivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e Sandra Martinho, Education & Philanthropy Lead na Microsoft Portugal.
A União Europeia considerou que o confinamento provocado pela pandemia de COVID-19 afetou e pressionou fortemente a Educação, trouxe grandes mudanças na forma de aprender e na sociedade em geral, e vimos professores tornarem-se líderes de uma mudança como nunca tínhamos visto antes.
Do ensino clássico presencial passámos, em poucos dias, para uma fase na qual as escolas tiveram de trabalhar à distância. “Fomos todos apanhados de surpresa, famílias e alunos tiveram uma reação muito positiva, e a capacidade de resposta que existiu, na mobilização dos professores, alunos e técnicos, trouxe ao de cima a capacidade do povo português conseguir encontrar forças para enfrentar tão bem estes desafios“, introduziu José Vítor Pedroso.
Há uma percentagem relevante de alunos que não tem meios tecnológicos para poder frequentar a escola à distância, mas a sociedade civil, empresas, associações de pais e autarquias, juntaram-se para ajudar nessa transição digital. É nesta camada da população que devem concentrar-se os maiores esforços. Este acesso democrático ao digital é um dos desígnios do plano de transição digital que está neste momento em execução para que todos os alunos possam ter acesso ao digital gratuito e universal.
Outro objetivo é ressalvar os planos das escolas de ensino à distância, permitindo-lhes que se organizem com base em ferramentas digitais, o que proporciona uma resposta célere e eficaz.
Já no Ensino Superior a transição foi quase obrigatória para o digital. As instituições de Ensino Superior, além do ensino, educação e investigação, têm uma terceira missão que passa pela realização de atividades que fortaleçam a relação da vida académica com sociedades e empresas. Essa extensão académica teve uma mobilização sem precedentes ao ponto de a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) ter recebido tantas propostas de atividades que foi desenvolvida uma plataforma para rapidamente colocar em contacto e em participação conjunta todas as ações que estavam a ser desenvolvidas. Foi assim que nasceu o portal Science4covid ainda ativo, descreveu Nuno Feixa Rodrigues.
Esta mobilização da comunidade académica traduziu-se em ações muito relevantes ao nível da investigação, onde foram resolvidos problemas em tempo record. Exemplo disso foi a produção de zaragatoas e testes que foi “impressionante ao nível da investigação”.
A Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), unidade da FCT que tem aplicações tecnológicas onde se pode medir a transformação que se verificou nas instituições de Ensino Superior, fez as contas ao sucesso na mudança rumo à transformação digital: no sistema de videoconferência Colibri, em 2019 realizavam-se 124 reuniões por dia; em 2020 passou para 9500 – 80 vezes mais sessões por dia num universo que era de 827 utilizadores por dia e passou para 200 000, naquela que foi uma migração massiva do ensino para o online, rápida e com poucas queixas.
“O capital humano é o principal elemento diferenciador num modelo de transição e relevância do digital. Qualquer estratégia de melhoria do país passa pela capacitação do capital humano. O digital como ferramenta deve ser colocado nessa capacidade crítica e de análise”, resume Nuno Feixa Rodrigues.
Tal como José Vítor Pedroso, também Sandra Martinho, Education & Philanthropy Lead na Microsoft Portugal, é da opinião que estes desafios que a Educação enfrentou agora, já tinham sido identificados no passado e já existiam vários estudos sobre estes novos contextos. As condicionantes são agora outras e existe uma motivação diferente para abraçar a mudança.
Contudo, a Educação não existe sem o relacional. O que se pretende é criar uma comunidade forte e coesa que permita desenvolver mais as áreas relacionadas com a solidariedade num futuro que já estava a ser traçado e que não deve ser alicerçado na COVID-19, considera Sandra Martinho. Mais do que nunca, é preciso capacitar todas as pessoas para atingirem o seu maior potencial, com a tecnologia como alavanca para acesso a informação e para estarmos ligados entre nós, mesmo que não estejamos no mesmo sítio. Para que tal seja possível, há um elemento que nunca pode faltar: vontade de mudança em prol de algo maior que achamos que vamos conseguir para transformar a nossa maneira de ser e de estar.
Estas são apenas algumas das conclusões que estão disponíveis neste documento.
Daniela Azevedo para a APDSI