‘Mamma Mia’ dos ABBA faz 40 anos

Abba - Mamma Mia single

Passar uma tarde inteira a ler, pesquisar e (re)saborear a história dos ABBA é algo que, de longe, não me cabe na categoria de trabalho. Talvez por isso haja uma redacção que, sabe-se lá porquê, finge não ver as lágrimas de alguma emoção que me acompanham os arrepios que não são de constipação iminente mas sim daquele fenómeno inadvertido que me acontece quando, como neste caso, toda eu viajo até aos anos em que vivia numa aldeia minúscula, onde a população passava o tempo atarrecadinha entre casas completamente coladas umas às outras, chamada Carrasqueiro. Era ali, numa sala que hoje poderia muito bem ser designada de multimédia, que os meus pais alojaram, em cima de alcatifa clarinha (as divisões da casa para onde só se ia aos domingos eram assim), cadeiras imponentes, um móvel com uma ITT Ideal Color (sim, dos primeiros televisores a cores) e um lindo gira-discos da Phillips, vermelho, ao qual me agarrei com unhas antes de haver dentes que o pudessem fazer. Foi ali que fui mexer “nas coisas da mãe” e cedo descobri… os ABBA.

Neste mês de Setembro assinalam-se os 40 anos sobre o lançamento de um dos temas mais emblemáticos na carreira dos ABBA: ‘Mamma Mia’. A canção foi a escolhida para abrir o terceiro álbum dos suecos, homónimo, e foi a responsável pelo definitivo lançamento do grupo para as luzes da ribalta. ‘Mamma Mia’ fez com que o mundo inteiro se apaixonasse pelos ABBA, na altura uns jovens na casa dos vinte e poucos anos.

Os acordes que se ouvem no início da canção são de marimba, um instrumento semelhante a um xilofone. Como se a expressão de surpresa à italiana não fosse já suficiente para fazer desta uma música muito catchy, ninguém consegue ficar indiferente à forma como as cantoras pronunciam «…resist you», com aquele “s” cheio de ins”ss”inuações giras…

Depois de ‘Mamma Mia’ os ABBA viram cinco álbuns chegar ao top ten das mais importantes tabelas de vendas mundiais e mais 14 singles ocuparam posições de topo, num total de quase 400 milhões de discos vendidos no mundo inteiro. Há, contudo, quem defenda que sem ‘Mamma Mia’ a história dos ABBA não teria sido a mesma. E, na biografia do grupo, lê-se que Agnetha Faltskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad nem sequer queriam lançar o tema como single, ou como lado A, como nos anos 70 os vinis mais importantes se designavam.

Na Austrália, a ABBA-mania espalhou-se de tal forma que a música esteve durante dez semanas consecutivas na liderança da tabela de singles. O sucesso foi de tal forma estrondoso que a editora Epic Records não teve outro remédio senão apostar forte na promoção dos ABBA no Reino Unido. O resultado? ‘Mamma Mia’ destronou, em Janeiro de 1976, na liderança da tabela de singles do Reino Unido a ‘Bohemian Rhapsody’, dos Queen, que, ironicamente, também se fazia valer da expressão “Mamma Mia” na recta final do tema. Claro que na Suécia, o seu país natal, a música também não largou a liderança da tabela de singles durante mais de dez semanas a fio, tal como aconteceu na Noruega, na Polónia, na Irlanda, na Suiça, na Alemanha, no Brasil e no Zimbabué (!). Nos Estados Unidos, não houve nada a fazer; os ABBA não foram além da posição 174 com a cantiga. ‘Mamma Mia’ teve uma versão espanhola, gravada em 1980 pelos próprios, e também foi a canção de estreia dos A*Teens com o álbum “The ABBA Generation”, de 1999.

Apesar da melodia ser muito leve e soar divertida, na verdade a letra da canção fala sobre uma traição que alguém não consegue superar. Björn Ulvaeus admitiu, mais tarde, que esta foi a primeira música da banda com um conteúdo mais rico, mais elaborado, e que os ABBA só a conseguiram criar numa altura em que já se sentiam confortáveis com a língua inglesa.

Separados desde 1982, os ABBA voltaram a aparecer em público em 1999 na altura em que “Mamma Mia” estreou em Londres no formato musical, de Catherine Johnson, tendo vindo a tornar-se no oitavo espectáculo mais bem sucedidio de sempre na história da Broadway, em Nova Iorque, onde estreou em 2001. Em 2008 a peça salta para o cinema numa produção dirigida por Phyllida Lloyd e escrita pelos próprios Benny Andersson e Björn Ulvaeus. Meryl Streep é quem faz o papel de Donna Sheridan, a protagonista do musical. Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgård desempenham o papel de três homens que procuram saber qual deles é o pai da filha de Donna, Sophie, a personagem de Amanda Seyfried. O cenário das filmagens, que voltou a apaixonar o mundo com aquele adocicado que os ABBA põem na vida, é o da ilha grega de Escíatos.

No próximo dia 30, o grupo vai lançar “ABBA – Live at Wembley Arena”, o concerto gravado originalmente em 1979 e, em Fevereiro do próximo ano, o musical “Mamma Mia” vai, finalmente, chegar a Portugal de 12 a 17 de Janeiro no Campo Pequeno, em Lisboa, depois de já ter sido visto por 54 milhões de fãs.

Trabalho feito por Daniela Azevedo para o extinto site do grupo Media Capital Rádios: Cotonete – Música e Rádios Online

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