A programação do Palco Mundo neste primeiro dia de Rock in Rio Lisboa 2014 abriu com um dueto, à partida pouco provável, mas muito fenomenal no resultado: Aurea e Boss AC. A tarde, ainda com o sol a acompanhar o público e a bater na cara dos artistas, convidava ao ambiente super descontraído que aqui se viveu e que mostra que os artistas portugueses são muito bem acolhidos pelo público, pelo seu público. Este foi um dueto inédito mas que já tem repetição assegurada na edição do próximo ano do Rock in Rio. Boss AC e Aurea não são só dois artistas muito aplaudidos e acarinhados, são também muito talentosos e no palco Mundo provaram ter uma química que suplanta a fusão de ambos os estilos que, claro está, executaram exemplarmente.
O concerto decorreu numa onda de “tu cá tu lá” com rapper e cantora a “intrometerem-se” no campo musical de cada um. ‘Main Things About Me’, de Aurea, foi a primeira canção a ouvir-se, seguida de ‘Hip Hop’ que se cola a ‘Lena’. O público aplaude, eu estou radiante, e Aurea prossegue com ‘Ok, Alright’, um dos temas que popularizou a nossa estrelinha blues no quente Agosto de 2008. Quentes também ficaram os fãs do rapper aos primeiros acordes de ‘Princesa’ do seu álbum de estreia “Ritmo Amor e Palavras”, de 2005, que nos recordou o videoclipe com Merche Romero.
Com estes dois não há impossíveis e a mistura de soul e hip hop prossegue imparável e a mostrar que, de facto, não há fronteiras na música. Boss AC actuou no Rock in Rio-Lisboa em 2008 em dueto com António Vitorino e em 2010 com o angolano Yuri da Cunha. Esta também não é a primeira vez que Aurea actua no Rock in Rio. A cantora tem visto a sua popularidade aumentar muito no Brasil, em boa parte graças ao dueto que fez com os Black Mamba, no Rio De Janeiro, e que valeu a esta cantora nacional de voz inconfundível o aplauso por parte da imprensa brasileira e o privilégio de ter as suas músicas a servirem de banda sonora a telenovelas brasileiras.
Aurea volta a dar cartas com ‘Scratch My Back’, o tema que serviu de apresentação ao seu segundo álbum, “Soul Notes”, e ‘Sexta-Feira’, o muito popular e divertido tema de Boss AC levou ao rubro fãs e menos fãs. Ambos mostraram o quanto estavam satisfeitos por poderem actuar «em casa». Tanto que a despedida de palco se fez com ‘Happy’.
Antes da dupla já se dançava a bom ritmo no Palco Vodafone com os Cais Sodré Funk Connection que estiveram pela segunda vez no Rock in Rio, eles que são considerados expoentes máximos do funk e da soul em português. São uma banda do agora mas os resquícios dos anos 70 estão lá. O seu álbum de estreia saiu em 2012, “You Are Somebody!” e estas quase “palavras de ordem” foram impostas durante a sua actuação que também foi muito bem recebida pelos fãs que ali acorreram embora, às primeiras horas da tarde, fossem as filas para os brindes e para a roda gigante que pareciam demonstrar que a força do apelo das marcas presentes no Rock in Rio estava a levar a melhor.
‘Do What You Wanna’, ‘Just Havin’ a Party’ e ‘Out of Sigh’ foram a sequência bombástica que conseguiu fazer levantar do chão até os mais fieis aos seu “arraial montado”. A interacção que conseguiram criar, com simpatia e simplicidade, junto do público, também ajudou ao reforçar dos laços, mais que não fosse pela partilha da intenção de também irem ver Robbie Williams – o cabeça-de-cartaz desta noite.
Presença habitual na noite lisboeta, o pôr do sol não parece ter-lhes sido estranho pois foi nesse ambiente que todo o groove que lhes corre nas veias, veio ao de cima, ajudado pelas interpretações de Fernando Nobre, ou Slick, o performer que encarna todo o espírito de James Brown na sua actuação. A vocalista também não lhe fica atrás na prestação vocal e é ela quem se ouve numa bela versão de ‘Mãe Negra’, de Paulo de Carvalho. Ainda apresentam o tema novo, ‘Do the Math’, acompanhado do anúncio do lançamento ainda para este ano do seu segundo álbum, e ‘Black Cat’ que afasta qualquer mau olhado. Os Cais Sodré Funk Connection trouxeram um bocadinho de Motown ao parque da Bela Vista e soube mesmo bem.
Resta dizer que o Palco Vodafone abriu também em português, com The Hound, num rock bom de se ouvir e sobre o qual se lamenta a menor afluência de público. Na sua actuação foi recordado o primeiro EP, por conta de ‘Safe Return’, e também houve espaço ao anúncio de um novo EP para este ano com a apresentação do novo ‘Dream Catcher’. ‘Lover’, ‘Coal’ e ‘Birds’ fecharam a apresentação de um projecto ainda pouco conhecido mas a merecer nova e mais atenta audição.
Trabalho feito por Daniela Azevedo para o extinto site do grupo Media Capital Rádios: Cotonete – Música e Rádios Online