Dom La Nena em Portugal: «Tenho vindo a desenvolver uma relação muito afetiva com o público português»

Dom La Nena lança Cantando

Dom La Nena, cantora e violoncelista brasileira, lançou um EP de versões de músicas que, ao longo dos anos, se tornaram parte integrante de si própria. “Cantando” surge depois do seu segundo álbum de originais, “SOYO”, que a artista apresenta pelo mundo fora, apesar de ter agora em Paris a sua morada oficial.

O vídeo de ‘Scenic World’, a versão de Beirut, a orquestra do norte-americano Zach Condon, que se pode ver mais abaixo, foi filmado em Portugal e no Brasil, mas também há dois momentos captados em Paris. As restantes três versões do EP “Cantando” são ‘Felicidade’, de Lupicínio Rodrigues, ‘Gracias a La Vida’, de Violeta Parra, e ‘Les Vieux’, de Jacques Brel.

Apesar da recente colaboração com Marcelo Camelo, Dom La Nena, deu que falar na edição do ano passado do Misty Fest por ter subido ao palco e tocado vários instrumentos sozinha.

Mas como é que uma artista do mundo se pode fixar numa cidade com uma cultura e identidade próprias tão vincadas como é Paris? Não fixa. É por isso que neste mês vamos poder ver e ouvir Dom La Nena nos concertos que vai dar em Portugal, integrados no Misty Fest. A 9 de novembro, amanhã, a artista brasileira atua no no Teatro Garcia de Resende, em Évora, no dia seguinte na Casa da Música, no Porto, e ainda, no dia 12, no Teatro Micaelense, nos Açores. Já por sua conta atua no Cine Teatro de Torres Vedras a 11 de novembro.

E se a simpatia é visível no vídeo, ao telefone, de Paris, tive a certeza.

Daniela Azevedo – Dom La Nena, que significado tem para ti o EP “Cantando”?
Dom La Nena – São quatro canções em quatro idiomas que falam de questões relacionadas com o sentimento do Ser Humano, têm esse ponto em comum; cada uma trata de um sentimento e são canções que me acompanham há muitos anos, fazem parte da minha memória afetiva musical e que tenho vindo a tocar nestes últimos dois anos, nesta digressão de apresentação do disco “SOYO”, que lancei em 2015. Às vezes apropriamo-nos demais das canções dos outros, começamos a ter uma relação muito forte com elas, e dá vontade de gravá-las, de deixar uma marca disso.

DA – É desafiante cantar em vários idiomas?
DLN – É, mas para mim é simbólico; são quatro idiomas muito importantes para mim. Três deles são quase as minhas línguas maternas. O português, claro, porque nasci no Brasil mas cresci na Argentina, vivo em França hoje em dia e falo muito inglês por questões de afinidade musical e de trabalho. A minha intimidade com essas canções também passa pela intimidade com a língua; não fui aprender esses idiomas para cantar as canções.

DA – No ano passado já estiveste no Misty Fest, aqui em Portugal, e este ano regressas para mais quatro datas. Quais são as expectativas!
DLN – Ah são muitas! [risos] Até porque nunca fui a Évora, Torres Vedras ou aos Açores! Estou muito feliz porque, com o passar dos anos, tenho vindo a desenvolver uma relação muito afetiva com o público português. Há uns anos fiz um disco com o grupo Danças Ocultas, tocámos bastante em Portugal e, desde então, tenho vindo a criar uma relação muito forte com o público português e geralmente é para Portugal que vou para criar. O meu mais recente disco foi gravado em Lisboa e produzido pelo meu grande amigo Marcelo Camelo que agora mora em Lisboa. Ultimamente tenho ido muito a Lisboa, por isso, poder apresentar o meu trabalho ao público português tem um gostinho muito especial pelo facto de eu ter essa relação muito forte com Portugal. Ainda é mais especial para mim porque estou na etapa final da minha digressão e queria muito fechar com chave de ouro… com Portugal.

DA – Nestes últimos dias, enquanto me preparava para esta nossa conversa, tenho estado a ouvir muito a tua música e, de certa forma, acho que tem um certo tom sagrado ou espiritual. O que te inspira?
DLN – Acho que é a vida que me inspira. Podem ter um certo lado espiritual mas sem ser religioso ou esotérico. É um sentimento humano, a vida, pequenas coisas do quotidiano que aprendi a valorizar e que me inspiram bastante. As minhas canções são muito sobre o conhecimento dos sentimentos e das vivências.

DA – Marcelo Camelo foi quem trabalhou mais recentemente contigo. Que outras colaborações costumas ter?
DLN – Tenho trabalhado com uma cantora mexicana chamada Julieta Venegas. Fizemos uma digressão juntas em Espanha e ficámos amigas. Tenho, também, uma outra colaboração com uma cantora franco-americana chamada Rosemary Standley, com quem faço um duo que toca muito em França. Nas minhas digressões do “SOYO” e “Ela” eu toquei sozinha em palco; é um momento muito íntimo entre mim e o público. Nos discos também toco a maioria dos instrumentos sozinha. Tenho um co-produtor mas, no geral, sou muito independente. Ainda assim alimento-me muito dessas colaborações, como com o Marcelo Camelo, por exemplo, ou com a Julieta, de vez em quando, com o Jorge Drexler ou o grupo Danças Ocultas.

DA – Dom La Nena, sei que gostas particularmente comida vegetariana. Em Portugal tens algum sítio ou prato vegetariano de que gostes particularmente?
DLN – Há um sítio onde vou há cerca de seis anos e nunca muda, é sempre o mesmo. Chama-se Terra, no Príncipe Real, e o meu prato favorito de lá é a feijoada vegetariana. Já faz parte da minha memória culinária portuguesa [risos].

Daniela Azevedo

 

 

 

 

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