Os Coração Noir formaram-se em 2014 e chegam ao final de 2016 a promover o lançamento do álbum de estreia “Jogo de Sombras”, todo composto por canções originais. O grupo, fundado por Pedro Marques, conta hoje com cinco elementos que asseguraram, durante dois anos, a escrita das letras e composição das músicas, arranjos, gravação e produção.
O single ‘Ficar’, que se pode ouvir no final da entrevista e que faz parte da banda sonora da telenovela ‘A Impostora’, da TVI, é bem o exemplo da linha musical que o grupo quer seguir, inspirada numa sofisticada pop clássica, com alguma inspiração na década de 80, incorporando também, na sua sonoridade, a estética acústica de outros estilos.
Sempre a cantar em português, na voz de Pandora Brasão, o grupo mistura o ritmo mais lento da balada com uma batida pop que surpreende pelo meio, tudo fortemente inspirado no estilo cinematográfico, sonoro e visual, que lhes inspirou o nome, o film noir, “Coração Noirassume”.
Para o início de 2017 está já prevista a apresentação ao vivo dos Coração Noir. Aguardam-se as indicações do dia e local concretos, enquanto os músicos já pensam num segundo disco. O fundador dos Coração Noir, o baterista Pedro Marques e o guitarrista Vasco Corisco, aceitaram conversar sobre a história da banda num final de tarde, em Lisboa.
Daniela Azevedo – Como é que nasceu a ideia de formarem os Coração Noir?
Vasco Corisco – O projeto começou com uma ideia que o Pedro teve de criar algo novo mas com reminiscências do passado. Tentámos criar um som que fosse individual, que recriasse os nossos gostos, as nossas influências mas com um toque muito nosso.
DA – A vossa musicalidade remete para os anos 80 e para o imaginário do cinema, por isso, peço-vos as vossas influências musicais e cinematográficas.
VC – Quanto a filmes vou citar, como não podia deixar de ser, o film noir, “O Falcão Maltês” e o “Casablanca”, os que remetem para aquele imaginário da mulher fatal, das histórias de detetives e das aventuras com desencontros, embora também haja outras influências mais recentes. Temos um tema onde fomos buscar aquele imaginário das bandas sonoras do Tarantino… enfim, há um pouco de tudo.
Pedro Marques – Todos passámos pelos anos 80 e todos temos um gosto muito particular em relação a bandas dos anos 80. No caso do Vasco há muito Clash, Joy Division e Cure, muita banda inglesa do início dos anos 80. Quando compomos acaba por ser alguma coisa que é recente mas sempre com um toque retirado desses anos 80 e é um caminho que ainda estamos a desbravar porque este é o primeiro álbum e temos tantas ideias novas em cima da mesa que ainda não parámos de compor.
DA – Apesar de serem um grupo recente já tiveram a canção ‘Coração Noir’ na banda sonora da telenovela “Coração d’Ouro” e outra ‘Jogo de Sombras’ n’”A Impostora”. Como é que foi terem já conseguido chamar a atenção de tanta gente?
PM – Sabe muito bem e dá-te uma sensação de que as pessoas estão a ouvir-nos. Ao entrarmos neste mundo das novelas acabámos por chegar a muita gente que não nos conhecia e, muitas vezes, essas pessoas estão a trautear as nossas canções sem saberem que são nossas, nem sabem quem nós somos. Surgiu por acaso. Enviámos as músias para os responsáveis e foram escolhidas.
DA – Cantar em português será sempre uma opção?
VC – Sim, completamente. O português é assumido, faz parte da nossa identidade e assim fazemos questão de continuar. Eventualmente podemos fazer uma ou outra versão em inglês de alguma referência que nos influencie, mas as composições serão sempre em português nos Coração Noir. Acho que o português tem uma musicalidade e sonoridade próprias, dá algum trabalho fazer com que nalguns momentos as sílabas batam certo com a música mas, quando é bem conseguido, é lindo e nós queremos manter isso.
DA – Como vão ser os Coração Noir ao vivo?
PM – Neste momento estamos a preparar o concerto de apresentação do álbum, estamos na fase de ensaios, e está previsto que seja em fevereiro de 2017. Até lá vamos estar a montar o espetáculo na nossa sala de ensaios. Ao vivo vamos tentar traduzir tudo o que fizemos no álbum mas com a característica única do “ao vivo”, ou seja, além dos imprevistos que acontecem [risos], vamos tentar acrescentar mais alguma coisa que não esteja no disco. Algo que ligue as músicas e possa chegar ao público como novidade. E depois, é a intensidade de uma banda a tocar ao vivo, a química que se constrói entre as pessoas e que já conseguimos fazer no Centro Cultural Olga Cadaval [Sintra], onde apresentámos dois temas, e que correu muito bem porque fomos bem recebidos e tivemos a nossa primeira experiência ao vivo que foi fantástica.
DA – E vão continuar a apostar no visual cinematográfico?
PM – Essa será uma parte integrante dos Coração Noir, quer através das roupas de palco que temos, quer através da imagem que projetamos durante os concertos e que vão ser dos nossos próprios vídeos ou de alguma coisa que nos toque e leve para esse universo noir. Podem ser pequenos clipes de filmes antigos ou outras ideias que ainda temos algum tempo para preparar.
DA – Estamos a praticamente um mês do Natal, já se ouvem músicas de Natal em todo o lado, por isso, vou pedir-vos que nos sugiram uma canção de Natal e outra vossa que encaixe bem nesta altura do ano.
VC – Remetendo, outra vez, para o universo do cinema, sugiro ‘Merry Christmas, Mr.Lawrence’, de Ryuichi Sakamoto, que faz parte da banda sonora do filme com o mesmo nome, fantástico, onde entra o David Bowie como ator, e que é uma das minhas referências pessoais no cinema. Dos Coração Noir… talvez o ‘Novembro’.
PM – Eu sugiro ‘O Mapa do Teu Coração’, dos Coração Noir, que sai este mês, e na altura do Natal parece-me o single ideal para passarem uns dias a descansar numa onda zen com esse tema que é uma balada só de piano e voz.
