Dona Elvira sobre o álbum de estreia: «Dona Elvira pode ser aquilo que cada um entender»

Dona Elvira falam sobre o álbum de estreia "Histórias e Segredos"

“Histórias e Segredos” é o título do álbum de estreia dos Dona Elvira que, depois de uma edição digital no início deste ano, já está disponível em CD. O disco traz doze temas com histórias do quotidiano português, contadas com algum humor.

Depois de mostrarem ao vivo algumas das músicas que compõem o álbum e terem percebido a aceitação pelo público, os Dona Elvira fecharam-se em estúdio durante o verão de 2015 para gravarem o primeiro disco juntos. Os temas são todos cantados em puro rock português. Mais abaixo, pode ouvir ‘Devoção’, uma das canções em que a banda mais está a apostar ao vivo.

Numa tarde ensolarada, encontrámo-nos para a Rádio Voz de Alenquer e trocámos umas impressões sobre a estreia dos Dona Elvira em disco.

Daniela Azevedo – O álbum de estreia dos Dona Elvira, curiosamente, já me soa familiar. Qual é a história por detrás de “Histórias e Segredos”?
António Oliveira (baterista) – São histórias e segredos que, com muito gosto, estamos a contar às pessoas enquanto desvendamos aquele que tem sido o nosso trabalho ao longo do último ano.

DA – Se não ouvirmos o vosso disco, só o nome, sugere tratar-se de uma banda de música tradicional portuguesa mas não é nada disso, pois não?
Paulo Lawson (vocalista) –
Não. Dona Elvira foi o nome que surgiu para desempatar um pouco os nomes que estavam na cabeça de cada um dos elementos. Do nada, o Francisco Durão disse: “Dona Elvira”. Gerou-se um silêncio, consensual, cada um imaginou a sua Dona Elvira e acabou por ficar.

DA – Mas não existe realmente uma Dona Elvira. Porque é que não há uma voz feminina no grupo?
AO – Existe uma Dona Elvira que é, nem mais nem menos, que o resultado do fruto da imaginação de cada um, portanto pode ser aquilo que cada um entender. Depois as músicas também vêm contar histórias e desvendar um pouco sobre quem poderá ser, efetivamente, a Dona Elvira.

DA – Vocês têm uma canção, ‘Mondadeira’, que fica imediatamente na cabeça. O que vos inspirou para esse tema?
PL – A história é talvez um mito urbano que se criou à volta da “mondadeira”. Existe, no nosso imaginário, aquela senhora que agriculta a terra, mas porque é que ela há-de semear apenas batatas e couves? Ela também pode semear outro tipo de sustento, digamos assim. Este tipo de sustento também é muito rentável, sobretudo na zona urbana, e por isso lembrámo-nos de fazer essa alusão às senhoras que trabalham no campo. A mondadeira é um bocadinho especial porque foi um mito urbano que se criou na nossa terra [risos].

DA – E vêm de diferentes formações musicais. Como é que se juntaram?
AO – Alguns de nós já se conheciam há muito tempo, por exemplo, eu e o Paulo começámos a tocar muito novos, éramos ainda vizinhos, morávamos muito perto um do outro. Um dia lembrei-me de lhe bater à porta… ele tocava guitarra e cantava, eu também, portanto, ele convidou-me a entrar e começámos a tocar passados poucos minutos e assim foi ao longo de vários anos, formações, projetos e estilos musicais. Passados uns anos conhecemos o Francisco (Durão), que por sua vez veio a conhecer o Tiago (Caldeira) e o Sérgio (Martins)… juntámo-nos naturalmente. Somos, acima de tudo, um grupo de amigos que partilha este gosto comum de tocar, fazer música e, às vezes, projetos atrevidos, como é a Dona Elvira.

DA –  Neste vosso percurso juntos, até chegarem ao álbum de estreia, qual foi a maior dificuldade que enfrentaram e qual o momento mais feliz?
PL – O momento mais feliz foi, sem dúvida, quando nós assumimos que íamos fazer um projeto de originais porque era algo que já fervilhava na cabeça de cada um, era um objetivo comum. Se calhar ainda não tínhamos tido aquele “clique”, aquela coragem que nos faltava mas com o amadurecimento das nossas ideias ao nível musical, chegou a hora certa. Temos todos as ideias bem definidas e temos material que estava guardado para a altura certa. Momentos maus… ainda não conhecemos nenhum. Tem sido tudo muito espontâneo e positivo. Também temos tido alguns amigos que, com um telefonema, resolvem os nossos problemas. Havia imensas dificuldades ao nível da promoção da banda mas esse problema já está resolvido. Claro que houve momentos de incerteza mas isso superou-se e temos esperança no futuro.

DA – Quanto à vossa opção de cantarem em português, sempre foi uma certeza?
AO – Quanto nos juntámos, com esta formação, começámos por tocar covers, portanto, cantávamos, maioritariamente, em inglês. Mas quando surgiu a ideia, vontade e convicção de fazermos originais, só tinha sentido fazê-los em português por ser a nossa língua e por não haver muita oferta. Nesta altura, sinceramente, achamos que viemos preencher uma lacuna no mercado ao nível do rock português. É verdade que têm surgido muito bons projetos mas ao nível da pop, da música eletrónica e de algum heavy metal, que existe e é bem bom. Agora, o rock puro e cru, cantado em português… há muito tempo que não se ouve em novos projetos. Estamos até muito emocionados e excitados com a ideia de começarmos já a trabalhar num novo álbum porque ideias não faltam!

DA – A sério?! Isso é invulgar, normalmente quando os artistas lançam um álbum de estreia querem “saboreá-lo”, tirar partido dele durante algum tempo e às vezes até fazer uma pausa a seguir…
AO – Nós não! [risos]. Só precisamos de tempo e oportunidade para dar andamento ao trabalho do segundo álbum que está já em vista. E agora temos também que deixar uma palavra de agradecimento a todas as pessoas que gostam e têm valorizado o nosso trabalho, aparecendo várias vezes nos nossos concertos, e também agradecer o convite que recebemos da Câmara Municipal de Sintra para tocar nessa grande catedral que é o Centro Cultural Olga Cadaval, em outubro. Tudo isso nos deixa muito orgulhosos e temos que agradecer porque este projeto faz sentido quando as pessoas lhe dão valor e mostram que gostam; é para elas que tocamos, todas estas músicas são feitas a pensar nas pessoas e não em satisfazer egos próprios. São mensagens com as quais as pessoas se possam identificar.

DA – Como são os Dona Elvira ao vivo?
PL – Os Dona Elvira têm que ser controlados! [risos]. É festa! Temos uma máxima que é: o espírito Dona Elvira e isso é fazer com que todos se sintam bem e integrados. É essa a magia. Não podemos simplesmente estar ali a tocar e as pessoas a fazerem o frete de nos ouvir, claro que não! Elas têm que participar, têm que interagir connosco e aí sim, entraram no espírito Dona Elvira: diversão e loucura!

Daniela Azevedo

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