Paulatinamente, tentamos que a vida vá voltando à normalidade, àquela que já mal reconhecemos nas rotinas diárias, e onde procuramos com avidez algo que possamos fazer para nos devolver alguma alegria e satisfação. E creio que temos que começar por aí para valorizar o que nos vai sendo possível.
No sábado passado lá fui cumprir um dos trabalhos que mais gosto e que há meses não se podia fazer: a inauguração de uma exposição, neste caso a do António Antunes, “entrelinhas”, na Fábrica das Palavras em Vila Franca de Xira.
Entrámos de máscara e seguindo o ritual que agora todos devemos cumprir, desinfetámos as mãos e o microfone, numa cerimónia limitada a 20 interessados em cultura.
Faz confusão? Faz muita. A máscara faz calor, é-me difícil respirar, falar, reconhecer algumas caras e aflige-me que se tire partido desta condicionante para não dar as “boas tardes” a quem, intencionalmente, se quer ignorar.
Todos sabemos que uma das áreas mais afetadas por esta pandemia foi, sem dúvida, a cultura, mas talvez nos caiba também a cada um de nós, com cautelas e restrições, devolver o nosso voto de confiança aos sítios onde já fomos felizes e onde sabemos que nos tratam bem.
Temos tempo… a exposição “entrelinhas”, autoria do cartoonista vila-franquense António Antunes, está patente na Fábrica das Palavras, em Vila Franca de Xira, até 15 de novembro. E é de entrada livre (no excuses).
A mostra é composta por uma série de cartoons de escritores portugueses e estrangeiros, assim como de artistas plásticos tais como Salvador Dali, Picasso e Júlio Pomar, todos saídos do “lápis” de António Antunes. A exposição itinerante é pertença da Casa Camilo – Museu Centro de Estudos que a cedeu temporariamente para estar patente na Fábrica das Palavras.
Ser feliz é também refilar um bocadinho menos com a boca sempre cheia de “nãos” e aproveitar o que a vida neste Planeta (ainda) nos dá.
Daniela Azevedo vestida por CLOE Concept Store
Fotos: Filipe Pedro