U2 em Lisboa – o futuro começou aqui

U2 na Altice Arena, em Lisboa, a 17 de setembro de 2018, fotografados por Danny North

Os U2 deram ontem o primeiro de dois concertos na Altice Arena, em Lisboa. Esgotadíssimos, os espetáculos fazem parte da digressão “eXPERIENCE + iNNOCENCE” que levou o público, quase todo muito adulto, à euforia.

Desde pôr o dedo na ferida sobre os partidos políticos europeus com posições cada vez mais extremadas, à crise dos refugiados, Bono foi o condutor de um espetáculo que trouxe os bons velhos irlandeses não só à música que arrasta milhões por esse mundo fora e esgota bilhetes em poucas horas, como também à intervenção social que sempre fizeram questão de marcar.

As sátiras e críticas à guerra e ao autoritarismo estão presentes nas fotografias que nos vão desfilando de uma Europa a despedaçar-se na década de 1940. De Portugal vemos uma imagem de 1926, estranhamente aplaudida. E tudo começa com ‘The Blackout’.

A atuação decorreu entre três lugares distintos: o palco “tradicional”, um palco secundário, semelhante a um heliporto, no meio do grande público, e uma espécie de passadeira ladeada pela tal grande manifestação tecnológica que será esta espécie de grelha que, a espaços, serve de tela onde o próprio Bono também entrou e interagiu com a animação que decorria enquanto cantava Cedarwood Road que fecha o ciclo da história que Bono contou sobre ele próprio: “Um miúdo banal que se tornou excecional por causa da música”.

Bilhete para U2 na Altice Arena “eXPERIENCE + iNNOCENCE” tour

Com ‘Sunday Bloody Sunday’ não se arrumam as histórias pessoais. A “canção-carimbo” do álbum “War”, de 1983, remete para o trágico episódio conhecido como Domingo Sangrento, em Derry, no qual as tropas britânicas mataram manifestantes de direitos civis. “Eu ia apanhar um autocarro e lembro-me que não consegui chegar ao destino. Havia bombas por todo o lado. Alguns de nós conseguimos fugir, outros não, e outros perderam familiares a tentar fugir”, lembra Bono. Nesta toada ainda ouvimos ‘Until The End of The World’ para, a seguir, a “turma” mudar para o tal palco próximo dos fãs e para um registo mais festivo com ‘Elevation’, ‘Vertigo’ e ‘Even Better Than The Real Thing’.

Mais à frente, voltam as histórias pessoais. Como se Bono se socorresse delas para tirar partido do natural voyeurismo que há em cada um de nós e a seguir remeter para uma questão fraturante e preocupante, como é a dos muitos barcos naufragados e milhares de vidas perdidas depois de dias à deriva nas tão noticiadas fugas de refugiados.

No encore, ‘One’ pôs a Altice Arena a cantar em uníssono, terminando com uma defesa à comunidade LGBT com o novíssimo ‘Love Is Bigger Than Anything In Its Way’…

Mais em: Musicfest – O cartaz dos festivais de música

Daniela Azevedo

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