Da edição deste ano do MotelX fica uma nota muito positiva para o filme “Upgrade” e um lamento para o facto de quase não haver decoração alusiva à temática do terror.
O filme, cujas primeiras imagens nos remetem para o ambiente de uma oficina de carros dos anos 80, com vinil a tocar e reclamos luminosos a bebida, centra-se no mecânico Grey, papel interpretado por Trace Logan Marshall-Green, e na esposa, Asha, interpretada por Melanie Vallejo, que, por oposição, trabalha numa grande tecnológica e é, claro, fã de novas tecnologias, ao ponto de gostar de recorrer a uma impressora 3D para “fazer” pizza.
A trama começa a ganhar suspense quando os dois se envolvem num acidente de consequências catastróficas, aparentemente causado pelo carro autónomo da jovem que acaba por ser assassinada por um grupo misterioso, enquanto o rapaz fica tetraplégico. E eis que começa a confrontação com os perigos reais da tecnologia automóvel: a possibilidade concreta dos carros poderem ser atacados por hackers (algo também já visto e explorado no “Velocidade Furiosa 8”).
Meses depois, enquanto o tecnofóbico Grey ainda sofre a perda da amada e passa os dias a tentar descobrir a verdade sobre o acidente, o bilionário Eron, cuja vida lhe é dada por Harrison Gilbertson, sugere-lhe uma cirurgia secreta para que lhe seja colocado um chip revolucionário de nome Stem (fui só eu que vi aqui o acrónimo Science, Technology, Engineering and Mathematics?!) que lhe permitiria voltar a andar e, basicamente, tornar-se invencível. Neste futuro próximo aqui retratado, a tecnologia domina quase todos os aspetos da vida e a Inteligência Artificial assume-se como a controladora dos nossos impulsos e vontades de forma que merece bastante reflexão.
A domótica está aqui muito bem representada e muito, muito longe daquilo que muitos julgarão ser fruto apenas da imaginação…
A produção australiana, dirigida por Leigh Whannell (“Insidious”), colmata a falta de orçamento na produção com excelentes cenas e sequências que misturam drama e ficção, colocando-nos sempre perante o dilema: a tecnologia é boa ou má para o Ser Humano? A dicotomia de argumentos que nos são apresentados está muito bem estruturada. Há aqui, talvez, uns resquícios “Robocop”, o homem-máquina cujo disco rígido não foi bem formatado.
Há quem diga que o orçamento foi modesto demais para um filme que aborda os avanços tecnológicos da humanidade. Contudo, os apontamentos de humor, tão valorizados no MotelX, estão lá e equilibram com as fragilidades emocionais de duas perdas. No final, ficámos saber que “Upgrade” é um filme B, sim senhor, mas feito “com muito amor e simpatia”.
Pertinente e bem conseguido.
Nota de rodapé para dizer que James Franco, que andava a passear em Lisboa com a namorada por estes dias, também esteve presente na sessão de “Upgrade”.
Daniela Azevedo