FMM Sines: 20 anos de balanço bom

Sara Tavares no FMM Sines 2018 por Mário Pires

O Festival Músicas do Mundo de Sines cumpriu 20 anos de existência e nada melhor que o assinalar de uma efeméride para também me arriscar numa estreia. O lema desta edição “redonda” é “20 anos de música com espírito de aventura” e, por isso, qualquer altura é boa para nos juntarmos ao clã até porque, aqui, quem vem quer descobrir sonoridades novas e diferentes ao invés de fazer o culto a um ou outro artista com dezenas de álbuns editados. De 19 a 28 de julho realizaram-se 59 concertos de 38 países e regiões que tornaram o Alentejo ainda mais bonito e internacional.

Famílias, jovens “de todas as idades”, turistas e figuras intrigantes levam Sines a uma viagem cultural que vai além do que se passa em cima dos palcos. Numa fase em que está, precisamente, a procurar sonoridades mais cruas na sua carreira, Tulipa Ruiz apresentou-se no último fim de semana do FMM ao entardecer de sexta-feira, dia 27, com uma seleção que intercalou entre os seus quatro trabalhos. Ainda assim, o mais recente mereceu maior destaque. “Este disco é uma volta à essência da composição, que vem da viola e da percussão; queríamos fazer um álbum com poucas camadas onde a canção ficasse escancarada” diz Gustavo Chagas, irmão de Tulipa, que descreve a atuação em Sines como um “exercício zen”.

Para o acordeonista finlandês Kimmo PohJonen ‘Skin’ Sines não é propriamente terra desconhecida. Depois de já aqui ter estado com o trio KTU, desta vez, a viagem é familiar mas nem por isso mais certinha porque Kimmo gosta de perder-se em todas as possibilidades harmónicas que o acordeão permite. Na altura em que a lua se vestiu de vermelho para deixar metade do país de cabeça a olhar para o céu, ouvimo-lo a “pairar” sobre composições mais suaves e outras mais eletrónicas e, arriscaria dizer, improvisadas num devaneio musical que agarra muito do público presente.

Com o grupo Maravillas de Mali percebemos, claramente, o porquê do sucesso e longevidade do Festival Músicas do Mundo. A primeira orquestra de música afro-cubana do Mali, criada nos anos 60 por estudantes malianos enviados a Cuba para aprender música, mostrou o quanto a fusão de culturas resulta em sonoridades extremamente invulgares, ricas e muito, muito festivas.

Já com o fim de semana em pleno, Sara Tavares (na foto) inaugurou o Castelo às 19h00 de sábado, dia 28, com um concerto tão recheado de público como poucas vezes se viu no FMM. Quem o disse foi a própria organização. Foi curioso apercebermo-nos que esta foi a estreia da cantautora em cima de um palco deste festival. Na verdade, esta é a atmosfera que diríamos ser “a cara” de Sara Tavares. A própria admitiu que, mal tirasse a pele de artista ia vestir a de fã e “curtir por essas ruas fora” como gostaria que os presentes fizessem “descalços ou calçados”.

Bulimundo. Foram um dos nomes mais aguardados ao longo destes dias. Embaixadores do funaná, a sua história confunde-se em parte com a da música de Cabo Verde porque, até 1975, o funaná – género que tão bem exploram e exportam – era reprimido pelas autoridades coloniais pela sensualidade que imprimia. Foi só nos anos 80, com dois discos lançados, que os Bulimundo cumpriram o sonho de levar este género musical bem além-fronteiras e em Sines toda esta viagem foi fortemente recompensada, dançada e aplaudida.

A noite, já com os Baianasystem em palco, começou a dizer “adeus” com o já tradicional fogo de artifício – este ano maior – para se cantarem os parabéns a Sines. De referir, em nota final, que em 2017, o festival recebeu o EFFE Award, atribuído pela European Festivals Association a “seis dos mais influentes festivais europeus”, tendo o júri destacado o papel do FMM – Sines na promoção de “uma diversidade real – não uma diversidade cosmética” e por constituir uma “celebração da arte, da vida e do espírito cosmopolita”.

Entretanto na sala de imprensa do FMM Sines
Entretanto, na sala de imprensa do FMM Sines…

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Daniela Azevedo

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