Ricardo Carriço sobre o seu lado de cantor: «Atingi uma certa maturidade e queria ir mais além do que já tinha feito»

Ricardo Carriço a solo com O Meu Mundo

Com o álbum “O Meu Mundo”, lançado recentemente, Ricardo Carriço estreou-se no palco da 19.ª Festa da Vinha e do Vinho de Arruda dos Vinhos, a 17 de novembro de 2016, numa noite onde a satisfação de estar a cantar para nós foi visível a cada acorde.

Apresentar a Festa da Vinha e do Vinho é uma das honras que tenho há mais de uma década Foto - Município de Arruda
Apresentar a Festa da Vinha e do Vinho é uma das honras que tenho há mais de uma década. Foto – Município de Arruda

Ator, manequim e, mais recentemente, cantor, Ricardo Carriço apresentou um conjunto de temas originais onde o apoio e energia dos músicos que o acompanham também não passaram despercebidos. ‘No Meu Mundo’, que dá nome ao álbum, é um dos temas fortes que se pode ouvir mais abaixo.

Com uma carreira de 25 anos no mundo do espetáculo, o artista não poupou elogios à terra que há muitos anos conhece, e não resisti a perguntar-lhe como é que, de repente, alguém que tão bem conhecemos das telenovelas e dos spots de rádio, salta para cima de um palco e recebe tantos aplausos de fãs e amigos.

Para início de conversa, ficamos a perceber que não foi assim “tão de repente” quanto isso…

Daniela Azevedo com Ricardo Carriço em Arruda dos Vinhos
Daniela Azevedo com Ricardo Carriço em Arruda dos Vinhos

Daniela Azevedo – Ricardo, como é que surgiu este projeto “O Meu Mundo”?
Ricardo Carriço – Basicamente começou no final do ano passado com uma grande transformação minha que atingi uma certa maturidade e queria ir um bocadinho mais além do que já tinha feito. Não me sentia inteiramente satisfeito com a sonoridade que tinha sido encontrada no primeiro EP e estava à procura de respostas. Daí surgiu esta nova formação, com esta malta do norte que me acompanha, todos estes músicos são extraordinários, de cabeça aberta, trouxeram ideias novas e perceberam o que eu queria, o conceito do meu projeto. Nasci em 1964, portanto passei os anos 80 debaixo de uma influência musical bastante grande, não só de bandas portuguesas como de outras bandas também que surgiram ao longo desses anos e a minha ideia foi trazer um pouco disso para os dias de hoje: ser um pop mais rock e não tão ligeiro como estava inicialmente porque preciso soltar esta energia toda cá para fora e que me sabe lindamente! [risos].

DA – É incontornável que o assunto passe pelo Ricardo Carriço manequim e pelo Ricardo Carriço ator. Como é que surge a música pelo meio?
RC – Começou há muitos anos, ainda eu não tinha uma voz tão grave quando entrei para um coro de canto gregoriano com o qual participei num disco de Natal e participei num festival em Barcelona, foi um processo muito engraçado. Depois disso a música esteve sempre muito perto de mim… em 1991, na minha transição de manequim para ator, estava a trabalhar num bar no Bairro Alto e pareceu-me começar a ouvir Phil Collins. Fui ver quem era e encontrei o Otávio Pimenta que, na altura, estava a viver cá no continente e tinha uma banda que eram os BlaBla Magazines. Começámos a conversar, acabámos os dois a trautear Phil Collins e há um dia em que ele me aparece no escritório e diz-me: “Queres concorrer ao Festival da Canção?” e eu disse “Bora!”. Três rapazes, três raparigas, concorremos ao festival da canção em 2003 e ficámos em segundo lugar no ano em que ganhou a Dulce Pontes com a ‘Lusitana Paixão’, portanto, foi uma honra ter perdido para ela. Já nos meus 40’s volto a assumir a direção da Confluência Associação Cultural que era um espaço com muita música ao vivo. Decidi fazer lá uma festa minha de aniversário e o espaço encheu-se de gente porque o presente que pedi foram 25 euros para verem Luís Represas, Fernando Girão, Mafalda Veiga, Ana Laíns, Luís Avelar, Miguel Gizzas e Rogério Charraz. No fim da noite subi ao palco, cantei o ‘Sunset Boulevard’ e o ‘My Way’, e de repente vejo a professora Leonor Leitão Cadete, consagrada pianista, a bater palmas de pé. Mais tarde, quando estou a promover o concerto do Rogério Charraz, pergunto-lhe que novidades vai haver e ele diz-me que uma das novidades é um dueto nosso. Cheguei a fazer estrada com ele e foi muito bom. Numa noite em que fui convidado a participar num concerto dele no Casino Estoril, estava o produtor Enzo D’Aversa a assistir e disse-me que queria fazer um disco comigo porque achou graça ao ver-me em palco tão feliz e foi assim que chegámos aqui.

DA – De quem é a autoria das letras?
RC – As letras são muito diversificadas, eu acho que não tenho jeito para escrever mas está aí uma rabiscada na gaveta. Algumas letras fui eu pedindo, encomendei, pedi músicas de amor, e surgiu o ‘Cru’, que é o prestar de uma homenagem aos refugiados. Gostava de um dia fazer um vídeo só com as caras daquelas pessoas e pedir-lhes que me dissessem “tudo o que vai nesse olhar afastado e frio”. ‘Sou do Mar’ pedi ao Luís Pinheiro, era um fado inicialmente, mas dei a letra ao Tozé Martinho que a musicou; outra letra, ‘Lágrima Lusitana’, é do Pedro Pires. Houve sempre um trabalho conjunto entre toda a gente e isso foi muito engraçado. Eu parto sempre do princípio que aquilo que se faz tem de ser com gosto, prazer e alegria. Não gosto de pessoas “pesadas” à minha volta e neste momento estou a divertir-me muito com aquele conjunto de pessoas que estão comigo em palco, são uns músicos dos diabos [risos]!

DA – Cantar em português será sempre o caminho?
RC – Cantar em português será sempre uma primeira opção, não quer dizer que um dia não possa aparecer um tema cantado em espanhol ou em inglês mas, para já, português é o meu caminho.

DA – E quais são os planos ainda para este ano para “O Meu Mundo”?
RC – Mais “ao vivo”, há vários pequenos concertos marcados, quero pôr o disco cá fora no início do ano que vem em CD/DVD. Vai ter todos os temas cantados ao vivo.

DA – Além dos Heróis do Mar, que homenageaste no teu concerto de hoje, que outras inspirações portuguesas dos anos 80 vais buscar?
RC – GNR, há ali muitas guitarradas que marcam bem o estilo deles, e Táxi também.

DA – Há alguma experiência do teu passado como ator e manequim que tenhas aproveitado para importar agora para a vertente cantor?
RC –  Todas elas valem a pena.

E sobre Arruda dos Vinhos?

 

Daniela Azevedo

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