O prestígio das universidades portuguesas quanto à investigação desenvolvida tem conquistado um grande reconhecimento a nível nacional e internacional. Ainda assim, no mundo empresarial parece permanecer a ideia de que o estudo e a investigação académica não estão em sintonia com a realidade social e económica, em que a investigação produzida não se transfere para a inovação das organizações públicas e privadas, não resultando na oferta de novos ou melhores produtos e serviços para a sociedade.
Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, desmistifica esta noção generalizada ao congratular-se pelo facto de, em junho, a comissão Europeia ter classificado Portugal como um país “fortemente inovador” – classificação que está relacionada com a capacidade da comunidade científica portuguesa se alinhar, principalmente, com as Pequenas e Médias Empresas para criar produtos e sistemas inovadores.
Portugal desde 2020 que é um país “fortemente inovador” com capacidade de transferir conhecimento, tendo abandonado a posição que anteriormente ocupava de “inovador moderado”.
Exemplos deste crescimento estão presentes, por exemplo, na área da energia na qual Portugal detém, há três anos, o recorde do número de dias consecutivamente alimentados em fontes renováveis de energia: foram três em 2018, quatro em 2019 e três dias em 2020, sobretudo em maio.
Vale a pena discutir esta temática, principalmente, em quatro desafios: as pessoas, instituições qualificadas, incentivos e ecossistemas adequados.
Elvira Fortunato, Cientista, Investigadora e Professora catedrática portuguesa, atualmente Vice-Reitora da Universidade Nova de Lisboa e Diretora do Centro de Investigação de Materiais (CENIMAT) | i3N da Faculdade de Ciências e Tecnologia|NOVA, considera que o investimento em Ciência “é sempre pouco”.
Ainda assim, as instituições e as pessoas são os pilares em que assenta a investigação e desenvolvimento tecnológico. “Entre a academia e as empresas ainda existe algum divórcio, embora nos últimos anos esta tendência esteja a ser esbatida”, afirma.
Elvira Fortunato dá como exemplo da transformação diária do conhecimento num produto real de inovação valorizado pela economia, a existência de um conjunto de laboratórios colaborativos, como a que é feita pela Imprensa Nacional Casa da Moeda na transformação do papel, em parceria com empresas e instituições como a Fraunhofer Portugal, a Navigator, o Raiz e um laboratório de análises clínicas – para uma vertente na área da segurança e testes rápidos de diagnóstico. “Assim é possível
transportar o que é feito em laboratório para empresas e gerar produtos reais”, confirma a Cientista.
Gonçalo Caseiro, Presidente do Conselho de Administração da INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, reconhece que o tempo da academia e o tempo das empresas são diferentes.
Para Gonçalo Caseiro, Portugal inova muito, e sustenta essa opinião nos números de doutorados, no investimento público e privado feito nesta área e no benchmark europeu, que demonstra que estamos precisamente na média europeia. Se verificarmos as mudanças e a evolução que ocorreu nesse índice, de 2012 a 2019 Portugal foi dos países que mais mudanças concretizou com sucesso. Embora nem sempre ocupando um lugar de destaque nesta escala europeia, as mudanças recentes levaram Portugal para o grupo dos mais inovadores, o que também se deve aos laboratórios colaborativos e parques tecnológicos que existem por todo o país que tentam juntar a academia às empresas.
Os incentivos dados às empresas para apostarem em investigação e desenvolvimento são, do ponto de vista do Presidente do Conselho de Administração da INCM, um dos fatores que mais estarão a contribuir para este crescimento, embora reconheça que há ainda muito caminho para trilhar.
Será que Portugal inova bem? A ligação entre a academia e as empresas tem sido conseguida graças a um aumento nas fontes de financiamento, mas se considerarmos apenas o investimento privado verificamos que as empresas ainda recorrem pouco à academia para fazer face à investigação com vista ao desenvolvimento. Tal significa que, normalmente, inovam dentro de portas. Talvez isso seja explicado pelo facto de os doutorados ainda estarem predominantemente nas Universidades e não nas
empresas (assim o demonstram as estatísticas). Assim, a produção resultante da ligação da academia às empresas ainda nos coloca muito abaixo da média europeia; esta ligação entre ambas ainda precisa de ser trabalhada.
Estas são apenas algumas das conclusões que estão disponíveis neste documento.
Daniela Azevedo para a APDSI