De 6 a 8 de outubro mudei de morada e acampei (quase literalmente!) no Pixels Camp. O acampamento juntou durante esses três dias, na LX Factory, em Lisboa, cerca de mil programadores portugueses, espanhóis, alemães e ingleses que tiveram 48 horas (non stop!) para criarem projetos inovadores cuja única regra diz que têm de se desenvolver num computador ou num dispositivo móvel.
O Pixels Camp tem por mentor o, até aqui, “Mr. Codebits”, Celso Martinho, que continua a fazer magia com tecnologia e empreendedorismo.
Em três dias pudemos ouvir, alguns melhor que outros, admitamos, 131 oradores que abordaram várias vertentes da programação informática, o trabalhar mais correto de imagens para o online e como facilitar a vida aos cegos, por exemplo, machine learning e inteligência artificial, cibersegurança ou realidade aumentada (a propósito… já experimentaram as loucas Holo Lens?).
Pelo meio houve atividades mais light e incrivelmente divertidas que, a meu ver, são já tão esperadas quanto a parte mais formal do Pixels Camp, e encerram boa parte do segredo do sucesso do evento que vai ter segunda edição, como garantiu Celso Martinho no final da tarde de sábado. São exemplo disso o “Quiz Show”, – o desafio das perguntas difíceis que até inclui uma pré-eliminatória, garantindo que só os melhores sobem ao palco – os “Nuclear Tacos” que este ano envolveram uma prova de bifanas explosivas, o “Presentation Karaoke” (alguém concebe que se parta para a apresentação de um power point sem saber que slides inclui ou que tema aborda? Insano, no mínimo) ou até um flash mob ao som do hit das pistas de dança de 1994, ‘Saturday Night’, da dinamarquesa Whigfield.
No evento houve, ainda, uma apresentação de projetos feitos por equipas de participantes, e duas talks sobre “Análise Preditiva” e “Novas Arquiteturas Digitais” promovidas pela Sonae IM.
Aproveitando a presença, na sessão de abertura, de Cláudia Azevedo, da Sonae IM, quisemos saber como está o panorama do empreendedorismo na área da tecnologia em Portugal? Cláudia Azevedo respondeu: «O nosso passado não é o melhor mas acho que estamos a viver tempos de mudança. O cenário está a evoluir e todos nós estamos interessados em ter uma indústria que nos diga o que é preciso. Temos muito talento, muita criatividade, falamos muito bem inglês, somos flexíveis, portanto, só precisamos de juntar as peças todas e, desejavelmente, os ventos de mudança vão soprar na nossa direção. Nos últimos dois ou três anos temos assistido a várias histórias de sucesso».
Sobre a edição de estreia do Pixels Camp, Cláudia Azevedo mostrou-se entusiasmada: «Talento precisa de mais talento e boas pessoas atraem ainda melhores pessoas, como acontece neste evento».
De outro patrocinador, a NOS, vem a forte crença de que Portugal é muito rico em empreendedores e developers. Manuel Ramalho Eanes também passou pelo Pixels Camp e ficou atento ao concurso de talentos de onde saíram, por certo, algumas propostas aliciantes para a marca de telecomunicações. A robótica é outra área sobre a qual o administrador executivo da NOS diz não haver nada a temer: «Acho que não devemos ter medo de nada. A tecnologia é o resultado do potencial humano, por isso, devemos olhar para esse potencial e perceber como o podemos utilizar para melhorar a qualidade da nossa vida ao invés de o vermos como uma ameaça».
Chris Heilmann, da Microsoft, voou diretamente de Copenhaga (outra vez a Dinamarca?!) para Lisboa e foi dos primeiros oradores a trazer uma lufada de ar fresco ao ambiente tipicamente escuro que se vive no “campo de concentração de pixéis”.
Chris Heilmann falou sobre a importância de se trabalhar bem o formato de uma fotografia para o online, além de mostrar como os sistemas já permitem calcular a idade e as emoções de cada um de nós, só através de uma imagem, assim como reconhecer os objetos lá presentes, por exemplo. Tudo isto ganha particular significado para os deficientes visuais ou para os curiosos sobre a evolução da Inteligência Artificial – AI.
«Já é possível, por exemplo, haver máquinas que desbloqueiam com um sorriso; podemos dar-lhe a ordem de “sorri para desbloquear”, e assim apenas pessoas felizes conseguem aceder ao teu programa», disse, divertido, o developer da Microsoft que regressou ao aeroporto também encantado com o nosso dead cat 🙂
Cansados mas super realizados e felizes, chegámos ao final da edição de estreia do Pixels Camp (mesmo sem termos avistado o impiedoso El Pixel). Celso Martinho considera que o futuro é promissor: «Depois do que vivemos nestes três dias não há dúvidas de que precisávamos do Codebits de volta, agora na versão Pixels Camp. A participação foi fantástica. Foi uma espécie de back to basics porque este evento é todo voltado para as pessoas, para aquilo que fazem, não é um evento comercial».
Palavras finais: «Sei que hoje vou dormir muito melhor», confessa.
Mais três dias de loucura, de talento e criatividade estão já prometidos para 2017. Vemo-nos lá?
Daniela Azevedo
Imagem: Mário Pires (obrigada!)